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Artigos - 22 February، 2024

Liga Árabe: Ignorando a Realidade ou Desconhendo-a?

A Liga Árabe foi estabelecida na primeira metade do século passado. E eis-nos aqui hoje, no século XXI. O tempo não pára. Os séculos XXII e XXIII chegarão e a Liga estará parada na primeira metade do século XX. Os membros da Liga Árabe entraram oficialmente na Palestina em 1948. Na altura, a acção era considerada legítima. Actualmente não poderiam fazer tal.

 

Em 1916, Sharif Hussein foi proclamado rei de todos os árabes, de comum acordo com os países aliados contra o Império Otomano. Na época, tal facto foi igualmente considerado aceitável.

 

No presente, quem é que pode proclamar-se o rei dos árabes? Se alguém se auto-proclamar como tal, isso será inaceitável. Essa pessoa irá ser considerada insana. Será  objecto de ridículo em todo o mundo, tanto árabe como não-árabe.

 

Um dos filhos de Sharif Hussein foi  proclamado rei dos sírios, apesar do facto de os sírios não serem hachemitas. Isso, também, foi considerado aceitável na época. Quando os invasores franceses o expulsaram da Síria, foi proclamado rei de outro país árabe, o Iraque. No início do século passado, isso era perfeitamente aceitável.

 

Nessa época, um homem como Abdul Aziz ibn Saud conseguiu mobilizar forças e fazê-los sair de Al Dar’iya, a sua terra natal, apoderar-se de todas as outras partes da Península Árabe pela força das armas, independentemente da sua afiliação, hachemita, iemenita ou outros.

 

Actualmente, se o monarca saudita decidisse anexar um emirado pequeno como Ajman ou Ras Al-Khaima, o mundo ficaria indignado e enviaria exércitos poderosos para abandonar os seus planos. A reacção do mundo à anexação do Koweit pelo Iraque é o caso em questão. Farouk era o rei do Egipto e do Sudão. Tal era perfeitamente aceitável e considerado legítimo.

 

Os árabes do presente não prestam atenção aos apelos dos irmãos árabes quando procuram refúgio dos seus inimigos. É concedido agora aos árabes asilo em países estrangeiros, uma vez que os países irmãos árabes lhes negam isso.

 

No passado, não era o caso: era dado asilo e protecção aos árabes noutros países árabes. Presentemente, graças à ordem estabelecida pela Liga Árabe, isto é políticamente inaceitável.

 

Se uma potência estrangeira ocupasse o seu país, não encontraria assistência em nenhum estado membro da Liga Árabe. Os líderes da resistência face à ocupação movimentavam-se livremente dentro do mundo árabe. Era-lhes assegurada protecção e apoio oficial. Incentivavam-se donativos em apoio à luta armada. Qualquer pessoa podia voluntariar-se para aderir à luta. Hoje tudo isto é proibido pelos poderes instituídos.

 

Nasser defendia a unidade árabe. Era apoiado, e posteriormente rivalizado, pelo Partido Socialista Árabe Baath. O facho passou depois à Revolução Líbia, a qual teve iniciativas arrojadas e fez tentativas corajosas para transformar os sonhos nacionalistas em realidade, até despontar a nova era da globalização e das entidades gigantescas.

 

O mapa do mundo começou a tomar uma nova forma com base no pragmatismo de novas e gigantescas entidades demográficas, tais como a União Europeia, a União Africana, a ASEAN/Sudeste Asiático, a Comunidade dos Estados Independentes, a nova Commonwealth (Comunidade Britânica), o Grupo de Xangai, a Organização Sul-Asiática e a NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), a qual constitui uma entidade que se estende do Canadá ao México.

 

Estas novas entidades não tomam em consideração a raça, religião, língua ou cor. Este novo mundo não reconhece laços emocionais ou culturais uma vez que não são práticos, pragmáticos ou de valor económico.

 

As novas entidades não podem basear-se na religião, nacionalismo, cor ou até mesmo língua. A única base é regional, uma área cujas infra-estruturas podem ser ligadas entre si.

 

Criam, deste modo, um mercado único, uma união aduaneira única, um visto único e uma rede única de transportes e de estradas. Esta integração serve os interesses da região envolvida e fortalece a sua posição de negociação perante entidades similares. Aumenta, igualmente, a competitividade na região.

 

Os árabes pertencem à mesma raça. Falam a mesma língua e partilham a mesma cultura. A maior parte dos árabes aderem à mesma doutrina. É um facto incontestável. Contudo, geograficamente, encontram-se divididos entre a África, a Ásia e a Península Árabe.

 

Aqueles que se encontram em África são uma parte integrante desse continente. São membros da União Africana, a qual surgiu em resultado da globalização. Por conseguinte, os árabes asiáticos e os árabes africanos têm estado separados devido à natureza da nova era da globalização e das entidades gigantescas.

 

Os árabes africanos serão, no futuro, estados componentes dos Estados Unidos de África tal como os europeus, que fundaram os Estados Unidos da América e se tornaram americanos apesar de as suas origens serem europeias.

 

Da mesma forma, dois terços dos árabes irão tornar-se cidadãos africanos. No futuro, próximo ou distante, a União Africana irá constituir uma única entidade política, económica, cultural e de segurança. Haverá uma identidade africana unificada a par de uma moeda única, um exército de defesa único, uma política externa única e uma posição de negociação conjunta.

 

Desconhecemos o que o destino reserva aos árabes asiáticos. É provável que se tornem parte da (ainda por nascer) entidade asiática. Poderão tornar-se membros de várias entidades, umas asiáticas e outras mediterrâneas. Também é possível.

 

O que fica claro é que irão ficar divididos. Irão ser atraídos pela gravidade das entidades maiores. Irão ficar fragmentados.

 

Um destino semelhante espera o Irão e o Afeganistão se não aderirem à Organização Sul-Asiática ou à entidade do Oceano Índico. Se não o fizerem, irão desaparecer ou, na melhor das hipóteses, ser-lhes-á atribuído o papel de amortecedor ou de lubrificante para minimizar a fricção entre as entidades maiores.

 

Alguns de vós poderão perguntar se é possível aos árabes criarem a sua própria entidade. Responderemos que não é possível. Os árabes de África fazem parte da União Africana. Não é uma questão de escolha. Essa é a realidade e a base da sua sobrevivência. É um imperativo demográfico.

 

África e Ásia são duas entidades distintas. Os árabes africanos encontram-se geograficamente separados dos árabes asiáticos. As afiliações nacionais e religiosas são inúteis se não estiverem associadas a uma localização geográfica que permita o estabelecimento de uma entidade única com mercado, economia, defesa, moeda, identidade, meio-ambiente e comunicações por satélite únicos e unificados.

 

A Nigéria e a Indonésia partilham a mesma religião. Mas não podem existir laços económicos, de segurança ou de defesa entre si. Tais laços não puderam ser estabelecidos entre o Iraque e a Mauritânia, apesar do facto de os seus povos pertencerem à mesma raça.

 

Os árabes de África constituem dois terços do número total de árabes. Todavia, e segundo os padrões actuais, são demasiado fracos e em número demasiado reduzido para estabelecer a sua própria entidade. Podem constituir um estado dentro da União Africana.

 

Os árabes da Ásia são igualmente demasiado fracos para constituírem a sua própria entidade. Uma entidade viável exige certos padrões de produção e consumo que lhe permitam competir a nível mundial.

 

Os árabes da Ásia carecem desses elementos essenciais.

 

O mesmo acontece com os árabes de África. A combinação dos dois carece igualmente dos mesmos elementos. Nem o Irão nem o Afeganistão possuem esses elementos, nem mesmo no seu conjunto. Para provar este ponto, basta examinar o produto doméstico bruto de algumas entidades:

 

O PIB de 15 estados da União Europeia é de 9.25 triliões de dólares.

 

O PIB do conjunto de todos os estados árabes é de 700 mil milhões de dólares.

 

O PIB de um estado do sul da Europa como a Itália é de 1.5 trilião de dólares.

 

Os estudos demonstram que a Itália desapareceria em 30 anos se não fizesse parte da União Europeia, apesar de o seu PIB ser o dobro daquele de todos os membros da Liga dos Estados Árabes no seu conjunto.

 

Se os árabes tivessem sido capazes de criar a sua própria entidade viável, teriam atingido a sua unidade nacional na era dos estados-nação.

 

Na realidade, o chamado Mundo Árabe ou a Pátria Árabe encontra-se em grave risco de fragmentação étnica e facciosa devido à natureza paradoxal desta era de entidades gigantescas e minorias febris.

 

Qualquer tentativa de uma acção árabe conjunta ou tentativas em persistir com as estruturas da Liga serão derrotadas pela realidade dos factos. Ser fiel à Liga Árabe revela um desconhecimento da realidade ou a tentativa de ignorá-la.

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